sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Meio cultural:

Yan Pascal Tortelier  na OSESP?


Começaram os rumores sobre quem substituirá o maestro John Neschling na OSESP. Pode ser nomeado como regente titular o maestro francês Yan Pascal Tortelier, filho do grande violoncelista Paul Tortelier, que atuou por duas semanas em 2008 com a OSESP. Tortelier é um regente consistente e imaginativo, dono de uma carreira internacional consistente e de trato maduro e suave. Ao que tudo indica, a escolha está sendo feita pelos músicos da orquestra. Sua função seria a de realizar a programação de Neschling e um diretor musical seria contratado a partir de 2010 para as temporadas seguintes , descentralizando as funções.Esses são bons caminhos? Talvez os números tenham alguma resposta.

A Filarmônica de Berlim escolhe seus regentes. Surpreendeu o mundo com a escolha de Claudio Abbado para suceder Karajan e acertaram - o público aumentou em 48% ao longo de suas temporadas. Depois, surpreenderam outra vez ao escolherem Simon Rattle, quando o esperado seria Daniel Barenboim, queridíssimo do público e dos músicos da orquestra, mas que eles achavam que não poderia renovar as platéias como se esperava de um novo diretor. Nos últimos anos, a venda de discos com a assinatura de Barenboim superaram as de Simon Rattle em 92% - uma conta amarga que os músicos estão pagando por sua escolha, uma vez que eles ganham substancialmente com estas vendas. Outro número: da relação recentemente publicada pela revista Gramophone com as melhores orquestras do mundo segundo alguns experientes críticos, das 20 primeiras apenas uma não tem como regente titular o seu diretor musical, a Filarmônica de Viena que já nasceu como uma associação entre os músicas da Ópera de Viena e que nunca teve um regente titular.

O que me parece importante refletir a partir daqui é: o Brasil sabe ter instituições culturais de ponta? Os principais museus das nossas maiores cidades são roubados e pegam fogo. Assim como nossas bibliotecas. Nossas salas de concerto precisam ser radicalmente reformadas a cada poucos anos. Eu não tenho dúvida que John Neschling tem o tal "temperamento difícil" - mas tenho certeza que ele instituiu uma nova maneira de criar, manter e difundir orquestras sinfônicas no Brasil, e isso é muito. Essa é uma lição que precisa ser aprendida por políticos - e por empresários! Ambos cometem erros graves no entendimento do que são instituições culturais, quais os seus propósitos, como dirigi-las. Precisamos de todos, mas todos precisamos aprender, especialmente quando os mecanismos de cultura no Brasil são baseados em incentivos fiscais - recursos que são públicos associados a interesses que são privados.

Esta associação não pode mais ser temida. Nossas leis de controle são baseados numa premissa bem brasileira: todos são ladrões e devem ser vigiados de perto. Apesar disso, há muita corrupção, desvio e desperdício, e praticamente ninguém é punido. As democracias mais avançadas controlam com a premissa de que todos são honestos - mas os que roubam são exemplarmente punidos. O outro erro grave que precisa ser corrigido é que profissionais da cultura são mal gestores. Não é verdade. Vi, nos últimos anos, administradores profissionais realizando temporadas pífias, escalando elencos ridículos e, até mesmo, depondo na Polícia Federal. Não vi isso acontecer com qualquer músico, escritor ou curador em cargos de direção. Isso não é privilégio das artes brasileiras; basta conversar com cientistas envolvidos em pesquisas de ponta. Nossa melhor medicina, por exemplo, é praticada em hospitais públicos, privados e universitários, criados e dirigidos por grandes médicos.

John Neschling prestou um serviço exemplar à cultura brasileira e merecia uma condução mais grata no processo de sua substituição. Políticos precisam entender que a cultura é produzida por critérios que não são da democracia, da maioria, mas do mérito. Sobre isso eles, todos eles, têm muito a aprender conosco.

http://oglobo.globo.com/blogs/clubedomaestro/post.asp?t=yan-pascal-tortelier-na-osesp&cod_post=155876

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